Automóveis terem custos expansivos no Brasil não é grande novidade para a maioria da população que sabe como se trata de um grande passo financeiro adquirir um, principalmente falando de produtos novos. Mas por que os carros estão caros? Algumas respostas já podem ser dadas logo de cara, como a pandemia do Covid-19 que desestabilizou o mercado mundial, ou a alta taxação tributária em cima dos produtos.
Contudo, se trata de um panorama maior que esse, o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes, já se pronunciou em meados de agosto deste ano que não há previsão para a diminuição dos preços dos carros. Ainda, Moraes afirma que há três fatores responsáveis pela alta do preço, são eles: a alta do dólar, o aumento do preço de matérias-primas e o reajuste do ICMS para automóveis do estado de São Paulo.
Adiante será aprofundado como esses três aspectos impactam no bolso de quem deseja comprar um carro, somados a mais 2 fatores que valem ser citados para despertar a atenção do consumidor. Assim, você leitor entenderá quais são os porquês dos carros estarem caros.
1. Desvalorização do Real
A alta do dólar frente ao real nos últimos anos encarece a importação de peças e componentes para a produção de automóveis. Em 2024, a moeda americana ainda oscila ao redor de R$5,20 a R$5,30, impactando diretamente os custos de produção, que são repassados aos consumidores. Essa desvalorização afeta não apenas os preços dos carros novos, mas também o custo de componentes e peças de reposição.
Além disso, o transporte de mercadorias no Brasil é altamente dependente do modal rodoviário, e a alta no preço dos combustíveis encarece o custo de logística. Em 2024, o preço dos combustíveis permanece em patamares elevados, o que dificulta a queda dos preços finais dos produtos, incluindo veículos.
2. Escassez de Componentes e Aumento no Preço das Matérias-Primas
Como citado acima, a falta de componentes e matéria-prima também são causas da alta no preço não só dos carros, mas de outros produtos das indústrias brasileiras. De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), cerca de 70% das indústrias nacionais seguem com dificuldade de encontrar insumos disponíveis no mercado. Para o setor de automóveis isso representou em outubro deste ano uma queda de 27% na venda de novos produtos, comparado ao mesmo período em 2020.
Recentemente, presenciamos uma crise no setor que produz semicondutores que também foi afetado pela pandemia, não dando conta da demanda no mercado mundial, tornando prioridade o setor de tecnologias como computadores e celulares que se manifestaram mais urgentes, é claro, pelas pessoas forçadas a ficar em casa.
Simbolizando um distúrbio na logística da indústria global, já que o atendimento das demandas teve que se reajustar, comprometendo outros setores. Com a escassez de fornecimento, a produção de alguns modelos do setor automobilístico foram paralisadas, dessa forma inflacionando não só o preço de novos produtos, mas também do mercado de usados e principalmente de seminovos.
Ademais, o aumento significativo no preço de commodities, como o aço(elemento essencial da indústria automobilística) teve alta de 120% de acordo com a Anfavea, que também afirmou alta nas resinas plásticas e outros derivados do petróleo. Ainda mais, vale destacar que a necessária admissão de novas tecnologias, ou seja, uma evolução no quesito aproveitamento e segurança do veículo, fazem os valores aumentarem significativamente.
Airbags, freios ABS, modo “eco”, entre outras tecnologias, necessitam desses componentes e commodities que estão em falta, sendo poucos os carros que ainda fazem uso de tecnologias inferiores.
3. Alta Carga Tributária no Brasil
Os impostos não são novidade, na verdade, se trata de uma característica histórica no porquê os brasileiros pagam caro em certos produtos, especialmente em carros. As taxações que incidem sobre a compra de um veículo são quatro ou até cinco dependendo do produto, estamos falando do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), do Programa de Integração Social e a Contribuição para Financiamento de Seguridade Social (COFINS), além do quinto que pode incidir na compra de importados, o Imposto de Importação (II).
O ICMS teve aumento considerável no estado de São Paulo que era de 12% no início do ano e já chega a 14,5%, representando a maior das taxações sobre automóveis, sendo de 11,6% a taxação do PIS/COFINS e de 11% do IPI. A soma desses impostos junto ao IPVA (4%), podem fazer o custo de um carro zero-quilômetro aumentar em até 52%. Este valor em comparação a outros países como a Itália é o dobro em taxas tributárias.
4. Custos Operacionais das Montadoras
Outro fator importante é o custo operacional das montadoras no Brasil. Além dos custos de produção, as montadoras precisam considerar despesas logísticas e custos elevados de energia elétrica. A falta de infraestrutura ferroviária ou marítima no transporte interno de peças e veículos torna o custo logístico mais alto, já que o país depende principalmente do transporte rodoviário, que é mais caro e sujeito a variações no preço do combustível. A pandemia e a instabilidade econômica dos últimos anos agravaram esses desafios, reduzindo a margem de lucro e aumentando a pressão sobre os preços.
5. Pressão Social e Cultural para Adquirir Carros Caros
Por fim, precisamos falar sobre essa cultura do gosto por pagar caro. O brasileiro sempre esteve acostumado com preços exorbitantes tanto no setor imobiliário quanto automobilístico, porém isso vem de uma falta de referência de um preço justo junto a falta de estabilidade econômica do país, dessa forma a maioria dos consumidores não entendem o que é caro e o que é barato.
Além de que, devido a clara desigualdade social aliada ao pouco investimento no transporte público, reforçam a ideia do veículo próprio. E já que são poucos os aptos a pagar tranquilamente valores tão altos, quem sabe até pagam mais, ter um carro de uso pessoal também é uma marca de status para a grande parcela da população que não possui condições favoráveis para arcar com os custos, mas que ainda desejam ascender socialmente. Por consequência, todos os consumidores são afetados por esses motivos.
Perspectivas para o Futuro
As previsões da Anfavea para uma possível queda nos preços dos carros são pessimistas. Até 2024, não há expectativa de uma mudança significativa nos fatores que mantêm os preços elevados. A inflação nos preços de matérias-primas, a instabilidade cambial e a pesada carga tributária devem continuar pressionando o custo final dos veículos. Para o consumidor, isso significa que, pelo menos a curto prazo, o carro continuará sendo um item de difícil acesso para muitos brasileiros.
Conclusão
O preço elevado dos automóveis no Brasil é resultado de um conjunto de fatores econômicos, logísticos e culturais. A desvalorização do real, a escassez de componentes, a carga tributária elevada e a própria cultura do status social associado ao carro próprio são alguns dos elementos que contribuem para esse cenário. Enquanto esses fatores não forem tratados de maneira estrutural, a acessibilidade dos carros para o brasileiro médio continuará comprometida.