Segundo a Federação Nacional de Veículos Automotores (Fenabrave), só no primeiro trimestre de 2021 foram realizadas 3,5 milhões comercializações de veículos automotores usados, que comparado ao mesmo período do ano anterior, 3,1 milhões, ocorreu aumento de 14,89 % deste tipo de transação. Já em relação aos veículos automotores novos, o cenário foi o oposto, houve queda de aproximadamente 5,5%, revelando o cenário atual da compra e venda automobilística: a falta de veículos.
Mesmo antes da pandemia, o caminho que estava sendo trilhado já era previsível, a escassez de carros era iminente, as implicações pandêmicas só fizeram intensificar o inevitável. Mas muitos ainda se perguntam por que está tão difícil encontrar carros novos para compra ou ainda por que a demora para entregar veículos que antes eram disponíveis a pronta entrega. Entenda mais sobre a falta de carro no mercado automotivo.
A Pandemia e Seus Efeitos Longo Prazo
Um dos principais motivos pela falta de veículos em todo o mundo é a crise sanitária mundial. A pandemia que teve início em Janeiro de 2020 e que segue sem rumo até hoje impactou diversos setores da economia mundial, inclusive o automobilístico. Muitas fábricas fecharam as portas e pararam a fabricação de uma forma nunca antes vista. O mercado mundial parou, assim como todo o mundo, na tentativa de conter a crise sanitária emergente.
Sem previsão de retorno e reabertura, muitos fornecedores deixaram reduzir ou zerar seus estoques para garantir o menor prejuízo possível. E assim tudo levou ao cenário observado hoje, falta de peças para montagem dos veículos em um mercado que começa a tomar novo impulso e aumentar o número de vendas. Em outras palavras, a pandemia está acabando, mas os impactos gerados por ela ainda continuam.
Além da crise sanitária, a crise econômica se destacou. Muitas pessoas perderam seus empregos, tiveram seus salários reduzidos e deixaram de consumir tanto quanto anteriormente. Assim, a demanda por carros novos diminuiu muito durante este período, e só agora que as coisas começam a voltar aos eixos, o consumo retorna ao que era antes, porém controlado pela falta de mercadoria, neste caso de veículos para compra.
A Crise dos Semicondutores
Componente essencial de qualquer carro atual, os semicondutores, também conhecidos como chips, custam entre $5 a $10 dólares, mas estão influenciando fortemente a falta de veículos no mundo todo. Esses chips são responsáveis por inúmeras funções de um carro, sendo raras as funcionalidades que não dependem destes pequenos circuitos para funcionarem. Sendo que a falta de um único semicondutor já é suficiente para parar toda uma linha de produção.
Para entender essa crise é necessário voltar no tempo para entender as razões estruturais por trás da falta desse componente essencial. Durante o período de distanciamento social em que muitas fábricas tiveram que fechar suas portas por tempo indeterminado, os pedidos dos componentes para montagem de veículos reduziram consideravelmente. Isso porque sem ideia de quando seria possível retornar a alta produção os montadores preferiram se precaver de um prejuízo maior.
Além disso, no cenário pandêmico o consumo por produtos eletrônicos aumentou bastante, implicando na alta produção de semicondutores focados nesta área específica. O imediatismo de consumo e o foco na tendência de produção “just in time” causaram mudanças no mercado de produção dos semicondutores e assim a chegou a crise dos chips.
Apesar disso explicar boa parte da crise, não é o único motivo para a escassez de chips mundialmente. A maior parte da produção de semicondutores é realizada pela TSMC, cobrindo cerca de 70% da produção mundial. Além de ser quase um monopólio, a produção dos chips é um processo complexo e demorado que envolve além de questões de fabricação mas como também de cenários que possibilitam a qualidade do produto.
Dessa forma, a produção de um único semicondutor consome grande tecnologia e tempo, são necessários laboratórios de ponta, equipados com profissionais e técnicas de última geração e sofisticadas. As salas são comparadas às salas de cirurgia, com ar condicionado, filtros de ar, isolamento de ruídos, e tudo isso não é nada barato e rápido de se providenciar.
Os fabricantes de veículos não querem apostar suas fichas em semicondutores quaisquer, são poucas as fábricas de chips que cumprem as imposições para produção de qualidade e com as tecnologias de última geração disponíveis. Por isso, estão sem grandes opções e muito menos têm como barganhar por descontos sobre os semicondutores, e isso impacta diretamente na linha de produção de veículos, que contam com milhares de chips para a produção de um único carro.
Escassez de Peças e Seus Efeitos
Em uma ação em cadeia, a falta de semicondutores impacta na produção de outros componentes necessários para a produção de veículos. Dessa forma, os estoques estão baixos em todo o mundo e não serão otimizados de um dia para o outro. Neste momento é importante usufruir de muita paciência e esperar que a situação pandêmica se resolva o quanto antes.
A produção está baixa e a espera por um carro novo pode chegar a quase três meses, em um cenário otimista. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima que a situação comece a melhorar ainda no fim deste ano e que tenha se normalizado até metade do próximo ano. No âmbito mundial, o Brasil, possivelmente, será um dos últimos países a ter o mercado automotivo restabelecido.
A prioridade das empresas no momento vêm ficando a cargo da produção de eletrônicos, e mesmo que a demanda por carros esteja começando a subir novamente, os preços não estão convidativos à compra de novos ou usados. Neste contexto, a produção irá melhorar, mas ainda levará um tempo até que o mercado retorne ao que era antes da pandemia.
Os Usados com Preços de Novos
Com a falta de carros novos, o mercado de carros usados se tornou ainda mais competitivo. O aumento da demanda por carros usados, combinado com a escassez de veículos novos, fez com que os preços dos carros usados subissem consideravelmente. Em alguns casos, os preços dos carros usados chegaram a ultrapassar o valor de veículos novos, devido à alta procura e à oferta limitada.
Essa tendência reflete a lógica básica de mercado: com a escassez de produtos novos, a demanda por usados cresce, o que acaba impulsionando o aumento de preços. Os consumidores, diante da dificuldade em encontrar carros novos, acabam optando por seminovos, o que alimenta esse ciclo de valorização.
Expectativas para o Futuro
O mercado automotivo está começando a mostrar sinais de recuperação, mas a normalização total ainda está distante. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima que, até o final de 2024, a situação comece a melhorar, com o restabelecimento gradual da produção de veículos e peças. No entanto, o Brasil, assim como outros mercados, pode levar mais tempo para alcançar a estabilidade completa no setor.
Por enquanto, a recomendação para quem busca um carro novo é ter paciência. Os prazos de entrega continuam longos e os preços elevados, tanto para veículos novos quanto para usados. A recuperação do setor automotivo dependerá não apenas da melhoria na produção de semicondutores, mas também da resolução dos problemas logísticos globais e do aumento da oferta de peças essenciais para a fabricação de veículos.
Conclusão
A falta de carros no mercado é o resultado de uma série de fatores interligados, incluindo a pandemia de COVID-19, a crise dos semicondutores e a escassez de peças essenciais. Embora a situação esteja começando a melhorar em 2024, o impacto dessa crise ainda é profundo, e os consumidores devem se preparar para prazos longos e preços elevados no mercado automotivo nos próximos meses. O cenário de alta demanda por carros novos e usados reflete um mercado em recuperação, mas que ainda enfrenta desafios significativos antes de retornar à normalidade.