Afinal, o que está acontecendo com os combustíveis no Brasil?

Combustível mais “limpo”? Entenda por que a nova mistura pode causar dor de cabeça no motor — e pesar no seu bolso!
Afinal, o que está acontecendo com os combustíveis no Brasil

Sumário

Você já deve ter notado: o governo decidiu aumentar a quantidade de etanol na gasolina e de biodiesel no diesel. A medida entrou em vigor com a promessa de tornar a matriz energética mais “limpa” e sustentável, mas será que isso realmente beneficia quem está abastecendo o carro todos os dias?

No papel, o argumento é bonito: reduzir emissões, fortalecer o agronegócio e impulsionar a mobilidade de baixo carbono. Mas, na prática, o motorista comum começa a sentir os impactos — e não são poucos.

Entenda as mudanças: o que mudou na gasolina e no diesel

  • Gasolina agora é E30: O percentual de etanol anidro passou de 27% para 30%.
  • Diesel agora é B15: O teor de biodiesel foi elevado de 14% para 15%.

Essas mudanças foram aprovadas no final de junho de 2025 pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) e passam a valer a partir de 1º de agosto. A promessa é que isso trará redução no preço por litro e ganhos ambientais. Mas será que a conta fecha para quem usa o carro ou caminhão no dia a dia?

O impacto real dos novos combustíveis no seu carro

A ideia de usar mais etanol e biodiesel parece sustentável, mas, para muitos motoristas, os efeitos já começaram a pesar — tanto no bolso quanto na oficina.

Problemas com a nova gasolina (E30)

Apesar de o governo garantir que o aumento para 30% de etanol na gasolina foi testado, nem todos os veículos estão preparados:

  • Carros antigos ou importados podem apresentar falhas, principalmente na partida a frio.
  • Motocicletas foram as mais afetadas nos testes, mesmo os mais recentes. A Abraciclo, que representa o setor, já se manifestou contra esse novo teor.
  • O consumo pode aumentar em alguns modelos, mesmo com a promessa de manter a eficiência.

Em resumo: o E30 funciona para alguns veículos, mas é o limite técnico suportado por muitos motores. Qualquer aumento a mais pode gerar falhas graves.

E o diesel B15? Mais dor de cabeça do que solução

Se a gasolina gera preocupação, o diesel B15 causa prejuízo real no transporte pesado:

  • Formação de borra nos tanques, que entope bicos injetores e filtros.
  • Redução da vida útil de peças e aumento no custo de manutenção.
  • Risco de falha em geradores de hospitais, que dependem de motores a diesel confiáveis.

A própria Confederação Nacional do Transporte (CNT) alertou que o Brasil já ultrapassa a média internacional de biodiesel (que é de 7%) e que o B15 está gerando problemas sérios nos caminhões e ônibus — os mesmos que movimentam o país.

Quem ganha (e quem perde) com o novo combustível

Apesar dos impactos negativos para quem dirige, o governo tem comemorado as mudanças nos combustíveis. Mas será que todo mundo sai ganhando?

Vitória para o agronegócio

Quem mais lucra com o aumento de etanol e biodiesel são os produtores rurais e grandes empresas do setor:

  • A produção de etanol movimenta a indústria da cana-de-açúcar.
  • O aumento do biodiesel favorece quem produz soja e outras oleaginosas.

Ou seja, com o novo percentual, o setor agroindustrial projeta bilhões em faturamento. O problema? Essa conta pode sobrar para quem precisa abastecer o carro ou manter uma frota rodando.

Prejuízo para o motorista e mecânico de plantão

Enquanto isso, motoristas enfrentam:

  • Aumento nos custos de manutenção.
  • Risco maior de problemas mecânicos.
  • Falta de clareza sobre o que exatamente está sendo vendido nos postos.

E tudo isso pode piorar com outro detalhe: a ANP suspendeu temporariamente a fiscalização da qualidade dos combustíveis em julho de 2025. Ou seja, nem a pureza da gasolina ou do diesel estará garantida neste período.

E onde estava a CNT?

Na reunião que aprovou a nova composição dos combustíveis, estavam presentes ministros, representantes do governo e até o presidente. Mas nenhuma cadeira foi reservada à CNT, que representa quem mais sofre com o diesel adulterado: os motoristas de caminhão, ônibus e empresas de transporte.

A solução ignorada: o diesel verde (HVO)

Enquanto os problemas com o biodiesel tradicional só aumentam, existe uma solução tecnológica que poderia beneficiar motoristas, montadoras e o meio ambiente: o diesel verde, também chamado de HVO (Hydrotreated Vegetable Oil).

O que é o diesel HVO?

Diferente do biodiesel comum, que tem estrutura química diferente do diesel fóssil, o HVO tem a mesma molécula do diesel tradicional. Isso significa:

  • Queima mais limpa e eficiente.
  • Não causa borra nos tanques nem entope bicos injetores.
  • Não exige adaptações no motor.

Além disso, o HVO reduz emissões de poluentes de forma mais significativa e real, sem os efeitos colaterais do biodiesel tradicional.

Por que o governo não investe nele?

Apesar das vantagens, o HVO ainda é pouco utilizado no Brasil por dois motivos principais:

  1. Alto custo de produção inicial, já que demanda investimentos em tecnologia.
  2. Interesses políticos e econômicos que favorecem o biodiesel atual, mais barato e com cadeia produtiva já estabelecida — especialmente com apoio da bancada do agronegócio.

Ou seja, mesmo com uma alternativa mais segura e eficiente na mesa, o governo opta por seguir o caminho mais político e menos técnico.

Impactos diretos para o motorista e para o Brasil

As mudanças na composição dos combustíveis vão muito além de uma simples mistura de porcentagens. Elas afetam diretamente o seu bolso, a manutenção do seu veículo e a segurança nas estradas.

A conta vai para o motorista

Apesar do governo prometer redução no preço da gasolina com a nova mistura (até R$ 0,13 por litro), a realidade pode ser bem diferente:

  • Consumo pode aumentar em alguns veículos, principalmente os mais antigos ou importados.
  • Manutenção preventiva se torna mais frequente, com troca antecipada de filtros, óleos e velas.
  • Em caso de problemas com biodiesel, há risco de pane em estradas, aumento de custos com guincho e perda de produtividade — especialmente para motoristas de caminhão ou aplicativos.

Mais oficinas, menos desempenho

Com mais etanol e biodiesel, motores trabalham sob maior estresse:

  • Em motos, falhas na partida a frio já foram registradas.
  • Em veículos a diesel, o aumento do B15 causa formação de borra, entupimento de bicos e perda de potência.
  • Em casos extremos, pode haver necessidade de retífica — e isso custa caro.

Enquanto isso, o Brasil deixa de investir em alternativas melhores, como o HVO, e empurra o motorista para uma situação de risco disfarçada de sustentabilidade.

Falta de fiscalização: combustível adulterado à vista

Como se os problemas mecânicos já não fossem o bastante, o aumento de etanol e biodiesel nos combustíveis vem acompanhado de outro alerta: o fim temporário das fiscalizações da ANP nos postos de gasolina.

Em julho de 2025, a ANP anunciou a suspensão do Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC) por falta de verba, após cortes no orçamento federal. Na prática, isso significa:

  • Não haverá coleta de amostras nos postos;
  • Ninguém vai verificar se o combustível está mesmo com o teor permitido;
  • Cresce o risco de adulteração, já que não há quem fiscalize.

Esse cenário abre espaço para o aumento de fraudes, como gasolina batizada, diesel fora dos padrões e etanol com mais água do que deveria. Quem paga por isso? Você.

Onde entra o tal “Combustível do Futuro”?

O projeto do governo leva esse nome bonito, mas o conteúdo real é controverso.

A ideia é mostrar o Brasil como líder na transição energética com menos carbono. Até aí, tudo bem.
Mas na prática, o combustível do futuro está sendo empurrado sem diálogo com quem depende dele todos os dias: motoristas, transportadoras e até fabricantes de veículos.

Enquanto outros países investem em eletrificação da frota, em diesel verde (HVO) e em transporte coletivo eficiente, o Brasil insiste em misturas mal testadas, com impactos diretos no cotidiano de quem roda nas ruas e estradas.

E mais: quem mais sofre são os profissionais que vivem do transporte — como caminhoneiros, entregadores e motoristas de aplicativo — que já enfrentam custos altos e margens apertadas.

O combustível virou problema para quem dirige

O aumento do etanol na gasolina e do biodiesel no diesel pode até ter um discurso bonito sobre sustentabilidade, mas a realidade nas ruas é outra. Quem sente no bolso e no motor é quem depende do carro ou da moto no dia a dia.

A falta de fiscalização nos postos agrava ainda mais a situação. Sem controle, cresce o risco de combustível adulterado — e você pode estar abastecendo com algo que danifica seu veículo sem nem perceber.

Enquanto isso, soluções como o diesel verde (HVO), que realmente trazem menos impacto ambiental sem danificar os motores, seguem fora dos planos do governo.

Se você depende do carro para trabalhar ou quer economizar na manutenção, agora é hora de redobrar os cuidados com o que está colocando no tanque.

FAQ: Combustível — o que muda e como isso te afeta?

O que mudou na composição do combustível?

A gasolina passou a ter 30% de etanol (E30), e o diesel, 15% de biodiesel (B15). Isso começou a valer a partir de 1º de agosto de 2025.

Isso pode prejudicar o motor?

Sim. Veículos antigos, importados ou com motor diesel estão mais suscetíveis a falhas, entupimentos e até redução na vida útil.

O combustível ficou mais barato?

O governo estima uma queda de até R$ 0,13 no litro da gasolina, mas o custo a longo prazo com manutenção pode anular essa economia.

Existe alternativa melhor?

Sim, o diesel verde (HVO) é uma opção mais moderna e menos agressiva ao motor, mas ainda é pouco usado no Brasil.

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