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Clássicos do Brasil: Rural Willys

Conheça a fascinante história do Clássico Automotivo Rural Willys, que remonta a década de 40 com início na Segunda Guerra Mundial.
Clássicos do Brasil: Rural Willys

Sumário

Nos anos 50, as estradas brasileiras eram notoriamente mais precárias do que as de hoje, com a falta de asfalto e o excesso de lama. Esse cenário despertou o interesse da norte-americana Willys-Overland em estabelecer uma fábrica no Brasil. Veja neste artigo a fascinante história do Rural Willys um clássico automotivo que remonta a Segunda Guerra Mundial.

Naquele período, o país vivia uma fase de industrialização, transitando entre o final do segundo governo de Getúlio Vargas e o início da era JK.

A Willys-Overland, uma fabricante independente, ganhou destaque durante a Segunda Guerra Mundial ao produzir o famoso Jeep militar. Com o fim da guerra, o robusto veículo 4×4 passou a ser comercializado também para civis, sendo amplamente utilizado como equipamento agrícola.

Clássicos do Brasil: Rural Willys

Ainda na década de 40, a Willys começou a diversificar sua linha de produção nos EUA, criando versões mais sociais do Jeep. Entre elas estava o Jeepster, um conversível que nunca seria fabricado no Brasil, e a Station Wagon, considerada a precursora dos SUVs modernos.

Lançada em 1946, a Willys Station Wagon apresentava um chassi com longarinas separadas da carroceria, eixos rígidos e feixes de molas. Seu motor inicial era o modesto L-134 Go-Devil, de quatro cilindros, o mesmo utilizado no Jeep militar e no seu irmão civil, o CJ-2A.

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Willys Station Wagon

Em 1949, foi lançada uma versão 4×4 da Station Wagon, equipada com um motor de seis cilindros de válvulas no bloco, conhecido como “cabeça chata”.

A grande revolução estava na carroceria de aço estampado e nas linhas quadradas do veículo. Até então, todos os utilitários e caminhonetes fabricados nos Estados Unidos utilizavam madeira em sua construção.

A Willys Station Wagon quebrou esse paradigma ao introduzir uma estrutura totalmente de metal, eliminando problemas com cupins. Curiosamente, nos primeiros anos de produção, a pintura marrom e bege do corpo da carroceria podia sugerir que a Willys Station Wagon era uma “woodie”.

Da importação à produção local: a trajetória da Willys no Brasil

Em 1947, os veículos Willys começaram a chegar ao Brasil, importados pela empresa Gastal, sediada no Rio de Janeiro. Essa companhia montou uma pequena linha de montagem em Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro. Logo depois, a montagem dos Jeeps também passou a ser realizada em São Paulo, inicialmente pela Jeepsa em 1948 e, posteriormente, pela Agromotor em 1949.

O sucesso das vendas dos Willys no Brasil foi tão grande que, em 1952, a empresa decidiu que era o momento de construir uma fábrica em São Bernardo do Campo, São Paulo. A decisão foi estratégica, já que a partir de 1º de julho de 1953, o governo de Getúlio Vargas proibiria a importação de veículos já montados, visando fomentar a indústria automobilística brasileira.

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O primeiro modelo da Willys produzido nas novas instalações foi o CJ-3B, em março de 1954, com 35% de seus componentes fabricados no Brasil. Nessa época, a Willys-Overland já fazia parte do grupo Kaiser-Frazer nos EUA, e as operações brasileiras, lideradas por Hickman Price Jr., contavam com significativa participação de investidores brasileiros, como a família Aranha, proprietária da Gastal.

A evolução dos Jeeps foi rápida: em outubro de 1955, a Willys-Overland iniciou a produção do modelo CJ-5 no Brasil, com 40% de nacionalização. Em 1958, a Station Wagon, anteriormente importada, começou a ser fabricada no Brasil, sendo rebatizada como Rural Willys.

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Rural Willys 1958

Nos primeiros anos de produção nacional, o modelo manteve o design original dos EUA, incluindo a “frente bicuda”, mas já recebeu o motor Hurricane BF-161 a gasolina, com seis cilindros em linha e 2.638 cm³.

Fundido no Brasil, esse motor tinha cabeçote em “F”, com válvulas de admissão na cabeça e de escapamento no bloco, rendendo 90 cv brutos. O câmbio era de três marchas, com caixa de transferência para tração 4×4.

Com eixos rígidos na dianteira e na traseira, o utilitário Willys era amplamente utilizado tanto no campo quanto nas grandes cidades, sendo popular como carro de frota. Por exemplo, era o veículo preferido para reportagens de nove entre dez jornais brasileiros.

Uma grande mudança estava por vir: em novembro de 1959, a Rural foi apresentada com um novo design, já como “modelo 1960”. Foi a primeira vez que um automóvel recebeu alterações visuais exclusivas para o mercado brasileiro, com a renovação liderada pelo designer americano Brooks Stevens.

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Rural Willys 1960

Exclusividade brasileira: a renovação da Rural Willis

Brooks Stevens era o designer ideal para modernizar a Rural brasileira. Com uma longa história de serviços prestados à Willys desde os anos 40 e participação no projeto da Station Wagon original, Stevens trouxe uma visão inovadora para a linha de veículos fabricada em São Bernardo do Campo.

Para a Rural-Willys de 1960, Stevens fez uma transformação significativa, mantendo os painéis laterais de 1947, mas modernizando o design do modelo. A dianteira ganhou linhas específicas para o mercado brasileiro, com faróis embutidos nos para-lamas e uma grade inspirada nas colunas de Niemeyer em Brasília. O para-brisa e o vidro traseiro passaram a ser inteiriços, proporcionando uma aparência mais moderna e elegante.

Além da Rural, a Pick-Up Jeep, uma versão com caçamba, também começou a ser produzida no Brasil, ampliando a linha de utilitários da Willys no país.

No I Salão do Automóvel de São Paulo, em 1960, a Willys-Overland apresentou o carro-conceito Saci, uma versão conversível da Rural. Embora o projeto tenha sido abortado, ele representava a versão brasileira do Jeepster norte-americano.

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Willys-Overland Saci 1960

A Rural 4×2, criada para quem não precisava enfrentar trilhas difíceis, entrou em produção. Este modelo tinha a alavanca do câmbio na coluna de direção, oferecendo mais conforto e praticidade.

Em 1964, a Willys lançou uma versão 4×2 com suspensão independente na dianteira e molas helicoidais, substituindo o eixo rígido com feixes de molas, melhorando ainda mais o conforto do veículo.

De Willys a Ford: A transformação da Rural e do Jeep no Brasil

Em 1967, a Ford adquiriu a Willys-Overland do Brasil e decidiu manter as linhas de produção dos modelos Jeep e Rural. Durante esse período, a Rural recebeu um motor de 3 litros com dois carburadores, capaz de gerar 140 cv, além de uma versão com transmissão de quatro marchas.

Com a crise do petróleo na década de 1970, a Ford equipou a Rural com o motor OHC de quatro cilindros e 2,3 litros do Maverick. No entanto, o projeto da Rural já estava próximo dos 30 anos e, em 1977, a produção em São Bernardo do Campo foi encerrada.

A Pick-Up Jeep, rebatizada como F-75 pela Ford, conseguiu se manter no mercado por mais tempo, sendo fabricada no Brasil até 1982, beneficiando-se da popularidade dos utilitários robustos no país.

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Ford F-75 1982

EUA, Japão e Argentina: A trajetória Internacional da Willys Station Wagon

Em outros países, o utilitário manteve seu design clássico (pré-1959) por muitos anos. Nos Estados Unidos, a Willys Station Wagon foi produzida até 1965, quando foi substituída pelo Jeep Wagoneer, outra criação do designer Brooks Stevens. Essa evolução culminou no famoso Grand Cherokee.

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Jeep Wagoneer 1965

No Japão, a antiga Willys Station Wagon foi fabricada sob licença pela Mitsubishi, com a frente do Jeep CJ-3B, conhecido como “Cara de Cavalo”. O primeiro modelo japonês, o J11, tinha carroceria de duas portas e uma distância entre eixos de 2,65 metros, igual à da nossa Rural.

Foi produzido de 1956 a 1961. Posteriormente, surgiu uma versão de quatro portas, exclusiva do mercado japonês, denominada Jeep J37, que foi fabricada de 1962 a 1983 e é considerada a precursora dos atuais Pajero.

Na Argentina, a Willys Station Wagon foi produzida pela Industrias Kaiser Argentina (IKA) e recebeu o nome de IKA Estanciera. Lançada em 1957, manteve a aparência original da versão americana até 1966, quando adotou uma carroceria semelhante à da Rural de São Bernardo do Campo. Até hoje, esse modelo é carinhosamente chamado de “Estanciera brasileña” pelos argentinos. A produção continuou até 1970.

NA perspectiva atual: o legado da Rural Willys

Comparada aos padrões atuais, a Rural Willys é um veículo que consome bastante combustível, fazendo aproximadamente 6,5 km/l na estrada com o motor Willys 2.600. A direção tende a ser instável, exigindo correções constantes do motorista para manter a rota.

Entretanto, o verdadeiro valor de um veículo desse tipo reside em sua robustez. Com manutenção adequada, especialmente a lubrificação regular dos mais de 30 pinos de graxa, a suspensão da Rural pode durar indefinidamente.

Seja em perfeito estado ou desgastadas pelo tempo, originais ou modificadas, muitas Rural ainda estão em uso, servindo em cidades do interior ou proporcionando diversão aos entusiastas de jipes.

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